Desde a madrugada desta quarta-feira (19), as chuvas que atingem a região metropolitana de Porto Alegre trouxeram preocupações renovadas aos moradores de áreas de risco. Em bairros da zona norte da cidade, a água invadiu algumas residências novamente.
Após retornarem para casa há poucos dias após as enchentes de maio, as famílias das chamadas ilhas de Porto Alegre, bem como dos bairros Humaitá e Navegantes, testemunham mais uma vez o aumento dos níveis dos rios.
Em Eldorado do Sul, município fortemente afetado pelas chuvas na região metropolitana, 5,4 mil pessoas tiveram que deixar suas casas novamente devido aos riscos de inundação. Dentre elas, 115 pessoas receberam abrigo em locais públicos.
Segundo a Defesa Civil da capital, entre meia-noite e 14h de hoje, choveu entre 64 e 79 milímetros em Porto Alegre. O nível do Lago Guaíba, que banha a cidade, atingiu 3,12 metros pela manhã, aproximando-se da cota de alerta de 3,15 metros e da cota de inundação de 3,6 metros.
A senhora Cleci Terezinha Elesbao, 49 anos, responsável pelo cuidado de crianças, retornou à sua casa em Humaitá há uma semana, depois da inundação de maio. Com o auxílio de doações que recebeu, ela começou a rearranjar os móveis que haviam sido afetados.
“É triste né. Tinha tudo dentro da minha casa. Levo a vida toda para construir. Me dá vontade de chorar, mas não adianta, não vai adiantar nada. Aqui não quero morar mais. Se eu tivesse uma oportunidade para sair daqui, eu ia”, comentou a moradora de uma das regiões mais atingidas pela enchente na capital gaúcha.
A situação semelhante é vivenciada pela aposentada Dileta Frazon, 65 anos, que reside em Navegantes há 23 anos e enfrentou alagamentos recentes. Apenas 11 dias atrás, ela havia retornado para casa após as intensas chuvas do mês passado.
“A gente fica com medo. Não vai parar mais. Não fizeram nada ainda. Cada chuva vai ser pior, vamos ficar sem dormir. Vamos procurar um lugar mais confortável e mais alto, né, mas não pode ser no morro para não desmoronar”, afirmou Dileta, acrescentando que assim que tiver a oportunidade vai deixar Porto Alegre. Ela quer ajuda dos governos para conseguir outra residência.
Os moradores da Ilha de Pintada, onde o nível do Rio Jacuí subiu hoje, também estão apreensivos. A região que beira o rio permanece devastada, com pilhas de entulhos, residências destruídas e veículos virados.
Daiane Azevedo Cabral, 41 anos, habitante da região, perdeu sua residência na enchente de maio. Ela nasceu e vive no local e nunca havia presenciado sua casa ser inundada. Diante da possibilidade de nova elevação do rio, ela descreve o cenário como “desesperador”.
“Porque eu estou com meus bichos tudo ali. Imagina eu sair de bote, carregar tudo de novo. Eu nasci e me criei aqui. Por isso que dói. Por isso que é ruim. Eu amo demais esse lugar aqui”, comentou. Apesar do apego pelo local, Daiane diz que não quer mais morar próximo ao Rio Jacuí.
“Eu gostaria de ter uma casa em outro lugar e fazer pelo menos um espaço rústico, alguma coisa que eu pudesse vir aqui e não perder isso, entendeu? Porque o medo é muito grande”, afirmou. Daiane tinha uma empresa de iluminação de festa, mas que acabou com a enchente, que levou todos os seus equipamentos. Ela voltou ao bairro há uma semana e está dormindo na casa do patrão do cunhado.
O marido de Daiane, Ricardo Sauer, de 53 anos, que é motorista de aplicativo, conta que não sabe como conseguir ajuda do governo para procurar outra residência. “Não temos informação”, lamentou.
Seu vizinho, Juarez Cesar Coelho, de 69 anos, se emocionou ao falar do futuro. Disse que não pensa em sair da Ilha de Pintada. Em maio, ele precisou ser resgatado de helicóptero do telhado da sua residência. “A vida é essa ai, não adianta. Tem que viver para sofrer. Eu perdi tudo, casa, carro”, contou.
Previsão do tempo
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um aviso sobre a ocorrência de tempestades em grande parte do Rio Grande do Sul, previstas para durar até esta noite.
A Defesa Civil de São Leopoldo emitiu hoje um comunicado alertando para o aumento do nível do Rio dos Sinos. Nos últimos dias, o Rio Grande do Sul vem sendo atingido por fortes chuvas novamente. Houve registros de alagamentos em cidades como Montenegro e Igrejinha.